domingo, 19 de julho de 2009

PIGuistória: Veja, 15 de abril de 1981



De fácil leitura, bem escrito, cuidado na edição e oportuno no tema, o trabalho do jornalista Mário Morel não é precisamente "uma anatomia de uma liderança", mas o aparecimento, no Brasil, de um tipo de produção editorial comum na Europa e freqüente na Itália: a "entrevista-livro" ou "livro-entrevista". Em geral, essas obras baseiam-se numa parceria tácita entre quem fala e quem ouve, e têm como resultado um personagem como ele gostaria de ser visto.

Sem dúvida, "Lula, o Metalúrgico" exagera um pouco na capacidade das pessoas de acreditar na eterna ingenuidade dos líderes operários que fazem política com desprezo pela teoria. Ele informa, por exemplo que foi para a greve de 1980 sem saber que, literalmente, o governo pretendia apanhá-lo numa armadilha. É mais provável que ele tivesse sofrido outro tipo de ingenuidade: a de acreditar que desmontaria a armadilha.

Nesse caso, sem dúvida ele terá sido ingênuo mas, ao se proteger com a versão de uma ingenuidade maior, acaba mostrando-se esperto e, sobretudo, capaz de atrair a ingenuidade alheia.

Lido por quem gosta a cada dia mais de Lula, o livro é um banquete de altruísmo, sinceridade e bons propósitos. Lido por quem quer conhecê-lo melhor, exige alguma atenção crítica, pois frases bonitas e heróicas às vezes são pouco mais que tolices. Como esta, por exemplo: "Mais valem lágrimas de uma derrota que a vergonha de não ter participado da luta". Isso porque nem sempre as derrotas podem ser pagas só com as lágrimas e não participar de uma luta não é, necessariamente, vergonha.

Elio Gaspari

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